Apresentação

O bom cinema é sempre um precioso instrumento para reflexões e aprendizados políticos e culturais. E promover reflexões e aprendizados no ambiente universitário, não por acaso, é um dos principais compromissos do PET-Programa de Educação Tutorial implementado pela SESu/MEC.

Este Blog é uma produção do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, que foi criado e é operado pelos bolsistas do Grupo PET-Farmácia/Saúde Pública da UFRJ. E, com alguns poucos filmes selecionados, se pretende estabelecer um espaço e um momento para o intercambio e a disseminação de experiências e informações sobre o universo petiano.

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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

ENTRE OS MUROS DA ESCOLA

9 comentários:

  1. Sinopse
    François se prepara para encarar mais um ano na escola em que trabalha, nada demais se a escola não ficasse em um bairro perigoso, mais François fará de tudo para que os seus alunos se comportem e o respeitem neste ano.

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  2. O filme entre os muros da escola deixa a sensação de haver sido filmado em alguma escola publica brasileira. Onde por motivos diversos como: não ver na escola um auxílio para um futuro melhor ou até mesmo por não ter planos para o futuro, problemas em casa, falta de orientação e incentivo familiar, a maior parte dos alunos apresenta um grande descaso em relação ao ensino e ao professor.
    Os alunos são desobedientes, mal educados e não respeitam os professores. Estes reclamam da postura dos alunos, mostram se cansados e não conseguem fazer com que o interesse dos jovens pela aula aumente.
    Agravando o quadro ainda temos problemas no comando da educação pública, que não contrata nem realiza concursos para novos professores e assim deixa algumas escolas sem aulas de uma determinada disciplina, mantém os professores com baixos salários e não proporciona às escolas segurança e infra-estrutura mínima para realização das atividades.
    Enquanto os alunos não vierem com noções básicas de educação de casa, os professores não estiverem dispostos e o governo não se preocupar de fato com a educação será impossível verificar uma mudança no cenário atual. E assim a cada vez o filme for assistido a sensação será a mesma.

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  3. "Os alunos são desobedientes, mal educados e não respeitam os professores."

    A escola pública realmente tem problemas de infra-estrutura. Os alunos realmente são mais complexos, visto que muitos não entendem o propósito da educação e já chegam às escolas desiludidos com o próprio futuro. Mas a realidade é que esse modelo de escola já não funciona para esses jovens carentes, nem para os demais.

    Os professores que tanto reclamam das péssimas condições de salário, do comportamento dos alunos e da infra-estrutura das salas, muitas vezes são totalmente despreparados para cativar esses jovens.

    A escola se tornou chata e enfadonha num mundo onde o conhecimento é dinâmico e veloz. Onde há internet, jogos, redes sociais.

    Os currículos não são reformados. Apenas o aprendizado tradicional é contemplado e valorizado pela escola. Mas os talentos, as artes, os esportes... nada disso é levado em consideração quando os alunos são avaliados.

    A escola deveria ser mais que português, matemática e geografia. As ementas deveriam se enxugadas. Disciplinas optativas e oficinas deveriam ser criadas, permitindo que os jovens se descobrissem e se expressassem livremente.

    É claro que é uma utopia, que precisaria de mais investimentos para criar uma escola assim. Mas o que não é debatido sobre a educação é seu processo de depreciação e defasagem ao longo do tempo. Estamos ocupados demais falando de salários e verbas.

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  4. Acho que quando se dá as coisas de mão beijada, as pessoas tendem a se acomodar e virar pidões. Não se pode disfarçar a incapacidade de prover para a população seus direitos como cidadãos com programas, campanhas etc. Isso aumenta a dependência e soa como presente mudando a impressão verdadeira que o povo deveria ter dos seus responsáveis. É como o caso dos elefantinhos que nascem no circo. Ficam anos amarrados a árvores, se condicionando aquele espaço e quando soltos nunca fogem, pois reconhecem aquele espaço como um limite que não são capazes de ultrapassar.A escola não abre os horizontes das crianças e jovens, pelo contrário, segue um roteiro centenário porque as pessoas tem medo do que pode acontecer se mudarem.E se não der certo?

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  5. Esse filme me lembra muito os tempos de escola no município e até mesmo no segundo grau na escola particular, Eu, assim como todos aqui, temos fatos a contar, quantos professores foram como pais e mães, e quantos professores foram como carrascos, alguns brincalhões, outros nem ao menos se davam ao trabalho de ir dar aulas. E quantos alunos bagunceiros, irritantes, desinteressados, muitas broncas, muitos problemas diferentes, muitas pessoas em um lugar tão pequeno, a sala de aula... Somos humanos, temos sentimentos, muitos dos meus professores se envolviam nos problemas dos alunos, assim como nos preocupávamos quando observávamos um semblante triste em um dos professores, não que seja a obrigação de um professor fazer mais do que passar a matéria no quadro e dar dever de casa, e expulsar o aluno bagunceiro da sala para servir de exemplo e seguir com a matéria com a turma em silêncio, mas...sendo uma pessoa que se preocupa com as outras, talvez demasiadamente sentimentalista, mesmo assim, seria bom ter mais professores como o personagem do filme, mas também seria bom ter melhores políticas sociais, e que os alunos tivessem menos problemas comportamentais para levar para sala de aula.

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  6. De uma maneira bem clara o filme mostra um pouco da realidade das escolas públicas brasileiras, mesmo não se passando no Brasil. Seus problemos físicos, seus professores com má formação acadêmica, segregações de diferentes formas, entre outros. Nada muito diferente do que encontramos aqui.
    Mas de todos os aspectos abordados no filme o que julgo mais entristecedor é o fato de alguns professores serem taxativos ao ponto de julgar um determinado aluno como um caso perdido! Deixando de investir tempo em algo (neste caso alguém) considerado inútil.

    Se por exemplo você é professor de química, e dá aulas para o 2º ano do ensino médio, o ideal seria que o professor que leciona para o 1º ano tenha cumprido com seu plano de curso. Caso isso não aconteça, você se vê em uma situação muito chata, onde a falta de compromisso e competência de seu colega afeta diretamente a realização do seu próprio trabalho. Esse é apenas um dos motivos que desmotiva um professor.

    Por mais infantil que possa parecer, como em qualquer outra profissão, os professores também gostam de elogios, boas condições de trabalho, disposição de recursos, e bons salários. O que infelizmente a escola pública não oferece.

    Muitos colegas meus fizeram prova para o Estado, pois este paga razoável, a carga horária é baixa e você ainda ganha a estabilidade do funcionarismo público. Mesmo depois de cursar muitas disciplinas ao longo da Licenciatura, infelizmente MUITOS ainda pensam assim.

    Acho que é indispensável que se fazam valer as legislações que cercam o magistério. Para que alunos e professores possam desenvolver suas atividades da melhor forma possível. Só assim progressos serão alcançados na educação.

    E como disse Paulo Freire:

    "Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo".

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  7. Não precisamos ficar somente no ambiente da escola ou da Universidade. Os muros estão em todo lugar.

    No filme, entre o professor e os alunos, entre os alunos e os alunos e entre François e os outros professores. O muro é a barreira da diferença: de idade, de cultura, de nível econômico, de etnia.

    Dentro da heterogeneidade de uma escola pública francesa, os muros. A luta do professor François é para derrubá-los, a partir de diálogos dentro de uma disciplina aberta aos diálogos, a Literatura.

    Na Universidade, os muros são ainda mais altos. As pessoas no mundo acadêmico tem bagagens maiores, mais experiência de vida e podem ser menos propensas à mudar de idéia. Seus pensamentos são menos flexíveis em um ambiente que deve priorizar a discussão. Um triste paradoxo.

    E na Universidade os professores colocam mais tijolos nos muros, na grande maioria das vezes, diferente do que tenta fazer François.

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  8. "No filme, entre o professor e os alunos, entre os alunos e os alunos e entre François e os outros professores. O muro é a barreira da diferença: de idade, de cultura, de nível econômico, de etnia."

    Perfeito Stéfano, concordo com sua visão de muros. Porém, creio que uma perspectiva de fundamental importância a observarmos são os muros dentro do método de ensino.

    No cotidiano da sala, percebe-se um distanciamento muito grande entre o professor e os alunos e entre os alunos entre si. A sala de aula não é um ambiente de troca. Ninguém fala a não ser o professor e o pobre Wey que meramente repete as palavras do professor.

    Destaco aqui duas partes do filme que falam sobre esta configuração.

    Uma delas é uma discussão em sala sobre uma forma de escrita pouco utilizado na linguagem cotidiana do francês, e um dos alunos fala (com muita vontade e gosto) "mas ninguém fala assim". Creio que o filme está denunciando a falta de preocupação do método de ensino com o cotidiano do aluno. Não é possível uma aproximação sem reconhecer a realidade do outro.

    A segunda, eu creio que seja o ponto alto do filme é quando dentro do projeto de autoretrato. O professor descobre o talento da fotografia em um dos alunos, Souleymane (se eu não me engano). Neste momento o aluno percebe seu trabalho. Parece-se criado um bom ambiente de trabalho.
    Porém esse ambiente não veio de graça, o estudante teve de vencer o seu medo de se expor a turma (mostrar algo diferente), impulsionado pelo professor. Percebe-se o alívio de uma tensão por parte do aluno, esse alívio faz parte do aprendizado.

    Obviamente, as duas situações apontadas não resolvem todos os problemas da educação, são só o primeiro passo, o de construir um ambiente saudável para aprendizagem. Esse ambiente deve levar em conta o COTIDIANO de todos os presentes e deve fazer os alunos sentirem como parte do processo de aprendizagem.

    Acho que esse é o início da educação tutorial. O desenvolvimento dos conhecimentos a partir desse ambiente pode partir, em grande parte (NÃO TOTALMENTE), dos alunos, o professor pode participar, principalmente, tutorando os estudantes.

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  9. Concordo com Stéfano em certos pontos - os muros estão em todos os lugares. Sejam aqueles que existem, são impostos pela sociedade, limites de ir e vir ou mesmo sendo aqueles que nós mesmos construímos. A relação professor/aluno existe há séculos, ouso a dizer milênios. Existiam aqueles templos, onde o conhecimento era passado do mestre para os aprendizes na forma da experiência de vida, sem grandes métodos ou quadros negros. E a preocupação era basicamente com a formação do caráter.

    Obviamente com a globalização, com a coisificação, construiu-se uma idéia de conhecimento técnico, aquele que se passa, se aprende (se decora) o suficiente para ser operacional. E daí, quando posto em contato com qualquer "situação perigo" falta a tal técnica. Quero chegar no ponto em que, hoje em dia, não aprendemos a pensar. Mal aprendemos a aprender. Existem muros que nos separam dos tais "mestres" (ou doutores) e a falta de pensar contagia.

    O grande lance do filme pra mim é o papel do professor na formação de seus alunos. É uma via de mão dupla... E talvez até mesmo um ciclo. Difícil achar um culpado... Afinal, aqueles que adentram os muros da sala de aula podem muito bem se desanimar, se deixarem calar pela total falta de interesse daqueles que ali estão sentados. E, quando não se tem interesse em escutar há o perigo de faltar o interesse em falar...

    "Os professores estão cansados e talvez se recusem a assumir esse risco de ajudar as crianças a crescer". Mas esse não é o papel do professor? Imagina só se o médigo cansar de fazer cirurgia pelo trabalho e risco da mesma? Imagina se o advogado cansar de defender os direitos (ou acusar) dos outros? Cada qual com seu fardo, não é mesmo? Ninguém nunca foi obrigado a lecionar... Mas algo está errado nisso. E é no mundo inteiro. Até retiro a culpa do MEC. Até retiro a culpa do salário 'mal pago'. Culparia a inversão de valores... E isso dá pano pra manga... Afinal, o que realmente importa?

    "O filme é um debate bem antigo com professores que acham que a escola é um lugar onde se deve aprender gramática e matemática, e outros que acham que a escola deve dar as ferramentas para que os alunos encontrem seu lugar na sociedade, dar não só o conhecimento mas também o modo de pensar que o ajudará a levar a outro lugar" - Laurent Cantet

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