Apresentação

O bom cinema é sempre um precioso instrumento para reflexões e aprendizados políticos e culturais. E promover reflexões e aprendizados no ambiente universitário, não por acaso, é um dos principais compromissos do PET-Programa de Educação Tutorial implementado pela SESu/MEC.

Este Blog é uma produção do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, que foi criado e é operado pelos bolsistas do Grupo PET-Farmácia/Saúde Pública da UFRJ. E, com alguns poucos filmes selecionados, se pretende estabelecer um espaço e um momento para o intercambio e a disseminação de experiências e informações sobre o universo petiano.

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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA


8 comentários:

  1. Sinopse:
    Uma inédita e inexplicável epidemia de cegueira atinge uma cidade. Chamada de "cegueira branca", já que as pessoas atingidas apenas passam a ver uma superfície leitosa, a doença surge inicialmente em um homem no trânsito e, pouco a pouco, se espalha pelo país. À medida que os afetados são colocados em quarentena e os serviços oferecidos pelo Estado começam a falhar as pessoas passam a lutar por suas necessidades básicas, expondo seus instintos primários. Nesta situação a única pessoa que ainda consegue enxergar é a mulher de um médico (Julianne Moore), que juntamente com um grupo de internos tenta encontrar a humanidade perdida.

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  2. Baseado num livro de José Saramago, escritor português, esse filme é tão sutil quanto grosseiro. Sua forma de demonstrar a essência do ser humano, mesmo quando desprovido de suas necessidades tão básicas, é fantástica.

    Primeiro vem o isolamento dos que são ditos "doentes". Ninguém quer o contato, ninguém quer se "contagiar". Todos querem seguir suas vidas, voltarem para casa, cumprirem seu horário e suas obrigações sociais. Isolar, esquecer o problema é a solução mais fácil.

    Depois vem o relacionamento do "grupo de doentes", no caso os acometidos pela cegueira repentina, que, isolados e forçados a uma convivência extrema, mostram o quão selvagem é o instinto humano, o quão cada um quer garantir o seu. A humanidade acaba por ser perdida. Seja pela força física, seja pela autoridade imposta.
    A única mulher capaz de enxergar comprova o quão a ignorância (no caso a cegueira) pode ser uma dádiva. É você não ser capaz de ver toda sujeira, toda maldade, toda segregação e toda falta de humanidade. Em seu caso, o fato de enxergar acabou por segregá-la dos demais, como se estivesse num meio que ninguém a entendeesse e que não fosse capaz, com palavras, de descrever o que via.
    Você mal consegue manter a sua integridade no meio de um mar de atitudes e opiniões contrárias.

    E assim segue acontecendo... Na sociedade, na universidade. Se você enxerga o que os outros não conseguem, você deve se esconder, se omitir. E tentar não se contagiar. Apesar de ser menos doloroso continuar na "maioria" e não ver o que se passa.

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  3. Esse comportamento é nítido na universidade. Somos 'treinados' para a mediocridade, para termos as melhores carreiras,os melhores salários enquanto deveríamos viver em função de um projeto comum a todos. Um objetivo de aperfeiçoarmos,de oferecermos qualidade, e não quantidade. Há tantas coisas que precisam ser reavaliadas e questionadas na nossa sociedade. Mas o instinto humano, como mostra o convívio dos doentes no filme,fala mais alto. É muito mais confortável não tentar mudar. É muito mais fácil continuar inerte à expor-se e ser criticado e julgado por ter um novo olhar de algo. O ser humano prefere sua cegueira natural, imposta pela sociedade do "O que os olhos não vêem, o coração não sente" à promover mudanças que deverá partir de cada um individualmente.

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  4. Seriam programas sociais como bolsa família, bolsa escola, auxílios, SUS como o isolamento criado para os cegos no filme?Servindo como um alívio para os não infectados e governantes e um “tratamento” para os doentes. E talvez esse isolamento criado pelo governo e pela sociedade saudável acabe por trazer a tona instintos de sobrevivência que se manifestam no “jeitinho brasileiro” de se aproveitar de qualquer situação mesmo que prejudicando o próximo.
    Será que se um dia não funcionarmos como deveríamos, não servirmos para a sociedade ou demandarmos ajuda demais vamos ser tratados igualmente?

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  5. O filme retrata, entre outros aspectos, a questão do anonimato. Numa sociedade em que todos são cegos, em que ninguém vê o que está acontecendo, coisas terríveis acontecem. As leis, a moral... Nada disso vale quando as pessoas estão protegidas por um véu. O que vale são os desejos humanos e a Lei da Selva. O uso do instinto. A realização de impulsos.

    De certa forma vivemos um pouco disso atualmente com a expansão da internet. Pessoas que não tem identidade espalham coisas terríveis na rede. Pessoas que não tem identidade falam tudo aquilo que gostariam de falar, pois estão protegidas pelo anonimato - podem fazer o que sempre quiseram fazer, sem encarar as conseqüências.

    Enfim, percebi como a articulação dos seres humanos é frágil. E como as pessoas se comportam "bem" apenas por temer enfrentar o julgamento público. Assim, os valores e as virtudes que os homens demonstram são extrínsecos a eles.

    A cegueira é libertadora, mas também devastadora, pois aqueles não tem virtudes intrínsecas acabam inviabilizando o convívio em sociedade.

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  6. "O que você faz quando
    Ninguém te vê fazendo
    Ou o que você queria fazer
    Se ninguém pudesse te ver"

    Essa música do Capital Inicial se faz presente no "Ensaio Sobre a Cegueira" devido à doença que acomete a população retratada no filme. Ninguém vê ninguém fazendo nada, apenas a mulher de um médico que acabou por não ficar doente.

    Que sorte, não?! "Em terra de cego, quem tem olho é rei!" Garanto que ficar cega poderia ter seu lado bom, neste caso, pois "o que os olhos não vêem, o coração não sente". Ela, coitada, sentia tudo mais que qualquer um ali. (E aqui um parênteses para como o senso comum pode suportar qualquer opinião leviana: há ditados para todos os lados). Tudo o que ela enxerga é chocante, deprimente: era melhor não ver.

    Provavelmente ela se sentiria mais confortável se não estivesse vendo tudo. Garanto que, pelo menos inconscientemente, muitas pessoas - inclusive na Universidade - preferem não enxergar o real e viver confortavelmente em suas "mentiras", fingindo que está tudo bem.

    "Se para mim está bom, posso fingir que está tudo bem com todos também e não vou ousar refletir sobre o status quo. Vai que eu passo a discordar das coisas? Vou ter que sair da minha zona de conforto. Eu não! Que fique tudo errado com o mundo dos outros pq eu estou tranquilo no meu". Autismo, egoísmo, chame do que quiser enquanto você conseguir burlar a sua consciência.

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  7. Esse filme nos faz pensar...
    “Você”* que não vê ninguém a não ser a si mesmo, que diferença faz se já está cego por dentro.

    Seria horrível se ficássemos todos cegos, a economia, o transporte, a alimentação, tudo desmoronaria, o que seria de nós? Mas se pararmos pra pensar, Já não somos cegos ao nosso semelhante? Não sei se seria pior ser cego ou ser a única pessoa que pudesse ver, o fardo sobre os ombros, a vontade de ajudar a todos, a destruição sem forma, sem tamanho, toma forma e tamanho só para você, e só você poderia concertar a confusão, é o que fazem pessoas como Madre Tereza de Calcutá, acredite ou não, eles são os que não estão cegos em nosso mundo.

    No filme os protagonistas acabam por formar uma família, se unem pelas dificuldades que passam, e passam a amar uns aos outros, enxergando apenas seu interior... nós julgamos muito " os livros pela capa", deveríamos aprender com a moral da história, somente deixaremos de ser cegos, quando passarmos a ver com os olhos da alma, tendo respeito pelos outros, e só assim poderemos ver de verdade, conhecendo a nós mesmo, e o quanto podemos ser bons uns com os outros.

    * Quando eu digo “você” não me refiro a quem está lendo especificamente, e também não estou me excluindo, é mais para: Se a carapuça servir...

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  8. Esse filme é verdadeiramente chocante. Quando vemos ali, de forma tão realista, aquela situação em que os "doentes" são colocados, aquele manicômio abandonado, sujo, sem o mínimo básico para uma sobrevivência digna. É chocante pelo fato de conseguirmos relacioná-lo tão bem com a nossa realidade, como é totalmente possível nos encaixar naquela situação, imaginar que um dia ela possa realmente acontecer. No filme vemos um grupo de cegos, que estão ali na mesma situação dos outros, mas resolvem tirar proveito da mesma. De que adianta, ali, as jóias, os abjetos de valor que aquele cego exige dos outros em troca de comida? O que faz o ser humano ter essa vontade de poder, de bens, de estar por cima dos seus iguais?
    E aquela mulher? A única que enxerga? Provavelmente, nenhum de nós ao ler a sinopse do filme pensa no quanto ela sofre, ao ver toda aquela sujeira, tanto no lugar, quanto no caráter daquelas pessoas. Podemos compará-la a tantas pessoas, que sofrem por "enxergar" demais. E que se calam, pois é mais fácil assim. O velho ditado de que "uma andorinha só não faz verão..."

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