Apresentação

O bom cinema é sempre um precioso instrumento para reflexões e aprendizados políticos e culturais. E promover reflexões e aprendizados no ambiente universitário, não por acaso, é um dos principais compromissos do PET-Programa de Educação Tutorial implementado pela SESu/MEC.

Este Blog é uma produção do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, que foi criado e é operado pelos bolsistas do Grupo PET-Farmácia/Saúde Pública da UFRJ. E, com alguns poucos filmes selecionados, se pretende estabelecer um espaço e um momento para o intercambio e a disseminação de experiências e informações sobre o universo petiano.

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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

ÔNIBUS 174


8 comentários:

  1. Sinopse:
    Documentário sobre o sequestro do ônibus 174, em 12 de junho de 2000, na zona sul do Rio de Janeiro.
    O sequestro foi filmado e transmitido ao vivo pela televisão, cujas imagens são mostradas no documentário.
    O documentário mostra o processo de transformação da criança de rua em bandido e sugere as causas da violência nas grandes cidades do Brasil.

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  2. Ao ver esse filme tive a nítida sensação do quanto esse menino, Sandro, responsável pelo sequestro do ônibus 174, se transformou em consequencia das situações pelas quais passou.

    Falta de oportunidades ou então, quando foram oferecidas - no caso do trabalho de uma ONG - não foram aproveitadas, talvez pela falta de orientação ou então pela facilidade ilusória que se crê levar na vida na rua.
    A visão do dinheiro fácil a partir de um assalto ou venda de drogas, a vontade de conquistar uma mulher e construir uma família, a facilidade com que se chega ás drogas ainda jovem são fatores que constroem essa situaçao e nos fazem questionar sobre o complexo sistema de destruição dos jovens pobres - ás vezes um caminho tortuoso por eles próprios escolhido.
    Nos leva ainda a questionar o que mais poderia ser feito por nós, se estamos virando as costas ou se estamos fazendo o que está ao nosso alcance.
    Dar mais oportunidades aos jovens e até tentar mostrar um resultado imediato de seu esforço, pois creio que aí se encontra seu desinteresse pelo trabalho e vida honesta: a tardia recompensa.

    Claro que ainda há a questão do amor e atenção, que se mostra muito mais necessária do que o simples apoio financeiro – fato que se mostra no filme na necessidade do jovem em se relacionar amorosamente com mulheres e em impressioná-las para conquistá-las.

    Talvez, então, a melhor maneira de comentar sobre esse filme seria citar a influência da sociedade no desenvolvimento do homem: o homem é fruto do meio onde vive. E o que rege é realmente a lei da selva, cada um por si, conquistando o de hoje porque o do amanhã é incerto.

    E estudamos, nos formamos, nos graduamos (como preferir), com a perspectiva de desenvolver qualquer trabalho que nos traga um pouco de prazer, que não ponha em prova a nossa ética (ou, pelo menos, que pague muito bem por ela), que permita aplicarmos um pouco do que passamos longos e intermináveis anos estudando. Continuamos a luta incessante para que a sociedade/o ambiente se adeque aos nossos interesses, e não vice versa. Talvez grande ilusão a nossa de achar que há alguma luta a ser travada... Talvez sejamos total fruto do ambiente que estamos inseridos, das companhias que andamos, dos orientadores com três digitos de páginas no lattes...

    E a universidade, que deveria construir, destrói. O pouco de ética, camaradagem, honestidade que nossos pais suam para nos ensinar, a universidade destrói. Porque, afinal de contas, aluno bom é o que come poeira de giz, se dá bem na prova (e ainda há aqueles que comparam prova com sucesso profissional.. tsk), passa 4 horas sentado na cadeira vendo professor ler slide colorido (ah, se o computador falha... o conhecimento vai junto).

    Talvez... A sociedade seja fruto do homem. Esse mesmo homem que aprende tanto cálculo (tanto faz) e esquece de todo o restante de sua FORMAÇÃO... É o homem que vai estar formando a sociedade do futuro - ou a do presente. É quase que um ciclo. Uns são corrompidos por outros, que são os que vão corromper depois... Difícil isso. A sociedade ou o homem? Quem veio primeiro? Ou melhor... Quem é fruto de quem?

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  3. No filme por situações distintas os dois meninos conhecidos como Alê tornam-se bandidos. Um deles, criado pelo dono do morro, é incentivado desde a infância para que seja como o pai coisa que acontece em algumas famílias sendo até visto como uma boa prática – pai médico, filho médico. Pai militar, filho militar. Pai bandido, filho bandido – No entanto, no caso do menino que não foi apresentado outra opção de futuro, seguir os passos do pai não o levou a um bom caminho. O segundo Alê vê suas possibilidades acabadas com a morte de sua mãe, e na rua sem condições de suprir suas necessidades básicas escolhe o caminho mais fácil, bater carteira.
    Em ultima parada 174 vemos duas historias que levaram a gênese de marginais, e na realidade essas histórias são apenas duas de várias, mostrando que o nosso problema de segurança publica tem raízes muito profundas. Onde marginais são gerados em fases diferentes da vida e independente de classe social, mas no final levam a um problema só, a criminalidade.
    Sendo assim, Todas as formas de repressão feitas à violência, ao trafico de drogas de drogas, aos assaltos, aos seqüestros e etc são muito validas só que também devemos nos preocupar com medidas de longo prazo a fim de evitar a transformação de crianças e adolescentes nos futuros Alês.

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  4. Nesse país, não há direitos sociais. Criamos pessoas marginalizadas que tentam se reintegrar na sociedade através do crime.

    O bandido também quer ter a roupa da moda, o celular da moda. Ele quer ter acesso aos objetos que mostram ao mundo que ele é alguém.

    Os próprios cidadãos viram o rosto para os mendigos, fingem que não é com eles, os tratam como se eles fossem invisíveis.

    O sofrimento, a fome, a vida que não tem nada a perder, tudo isso leva ao uso de drogas como o crack e a cocaína. Essas drogas são uma fuga, uma forma de esquecer a realidade. Mas elas também levam ao crime.

    O aspecto mais cruel desse filme é o escancaramento do pensamento e da cultura brasileira.

    Embora o rapaz tenha feito coisas ruins no ônibus... Ele é um cidadão. Mas a cultura brasileira não aceita o conceito de cidadania. A cultura brasileira é relacional. É uma cultura em que os direitos são proporcionais aos bens, aos cargos, à influência.

    Então, tratamos o Sandro como uma aberração. Como um ser que deve deixar de existir.

    Ainda somos uma sociedade conservadora. Não discutimos o aborto. Não se debate mais esse tema nas eleições porque, historicamente, os candidatos que apoiam o aborto sempre perdem.

    Mas não vemos problemas em abortar um ser humano aos 20 anos. Não vemos problema em querer linchar um bandido. Não vemos problema em dizer: "Bandido bom é bandido morto".

    Que respeito a vida é esse?

    Todos tem o direito de nascer. Mas o direito de viver, sobretudo se você for um pobre coitado... existe no Brasil?

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  5. A maioria dos meus colegas aqui certamente irá defender que o coitadinho do bandido só é bandido por que a vida fez ele assim, por causa das desigualdades sociais, por que bla bla bla,

    Desculpem, mas não concordo!

    Tenho muitos amigos que os pais não eram gente decente, que ficavam sozinhos em casa cuidando de irmão menores, sendo eles próprios menores! Pessoas que por este ponto de vista, teriam tudo para serem ladrões, estupradores e assassinos, me desculpem senhores, concordo que se o sistema fosse mais justo, talvez a criminalidade fosse um pouco menor, mas por que vemos camelôs nos ônibus pedindo benção pro motorista que os deixa entrar para venderem suas balas, até mesmo aqueles que pedem esmolas nas ruas? Se assaltando teriam, com um pouco de sorte, um ganho bem maior em uma só tacada? Seria medo da Lei? Lei...que lei? é muito fácil sair impune! Não é isso, acredito que seja uma questão de caráter...não vou dialogar aqui que "pessoas nascem más" ou "caráter depende da educação", não sei bem o que salva o caráter de um irmão e deixa o outro tomar tiros na cara por se envolver com gente que "não presta", se ambos tiveram as mesmas dificuldades, o fato é que, na hora que aquele "menino" tomou a decisão de fazer o que fez e culminar no escândalo do ônibus 174, talvez tenha sido ele! não a sociedade. Sempre existem escolhas! Sempre.

    Não sou conservadora, só sou realista.
    A realidade é essa, dificuldade todos temos, tenho exemplos reais de superação e de quedas no meu caminho, por isso penso assim.

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  6. O filme retrata a vida de um menino que, após a morte da mãe, levado à casa da tia, acaba por fugir. Nas ruas, em um lugar distante, conhece as drogas e o roubo. O que mais me chamou atenção no filme foram as inúmeras chances que esse menino teve de sair da criminalidade, seja pela ajuda da ONG, seja pelo reencontro com a "mãe". Mas ele não quis.
    Ele demonstra ter um desvio de caráter que não tem mais conserto, por assim dizer. Sim, é claro que os maltratos ao longo de sua vida foram também contribuintes para esse desvio. Mas e quanto as oportunidades? Talvez ele já estivesse muito machucado para agarrá-las. Mas e tantos outros casos que acompanhamos de pessoas que tiveram família, posses, estudo e mesmo assim roubam, matam? Traficantes com graduação, garotas de programa que não queriam trabalhar 8 horas por dia em um shopping e vendem seus corpos...
    A verdade é que a natureza do ser humano é percorrer o caminho mais fácil, o caminho que lhe traga lucros mais rápido e com menos esforço. Não digo que são todos, é óbvio que não. Há tantos exemplos de meninos e meninas esforçados que nós cercam, que cresceram ao lado de bocas de fumo, que perderam amigos para as drogas e para o tráfico e que mesmo assim nos surpreendem, estudando e levando uma vida digna.
    No caso do Ale não foi assim. Ele preferiu se manter à margem. Tenho para mim que o filme ainda tenta colocá-lo como um bom rapaz... Em certos momentos chegamos a achar que ele é bom, como quando ele não quer matar a senhora no carro ou já no sequestro, quando ele libera o garoto que está indo para a faculdade, ou vai libertar a senhora que estava passando mal. Mas será mesmo que ele não ia matara ninguém, como foi dito depois? Poderiamos confiar em um homem totalmente drogado?
    Pode ser que nós também, por traumas ou por medo, pensemos: "Por que nao atiraram nele dentro do ônibus mesmo?". Ou por bom senso.

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  7. Esse filme é pra mim o mais complicado de se discutir...

    É também o que expõe o problema de forma mais clara, crua.

    Acho que o filme coloca Sandro como completo inocente. Calma lá.

    A discussão que não acaba é: a culpa é de quem?
    Da sociedade? Do menino? Fica uma discussão meio ovo-galinha, como a Aline já falou.

    Aí vamos apelar para exemplos: o Enéas nasceu no interior do Acre, trabalhou desde os 8 anos de idade e se formou Médico, Físico e Matemático. Era muito respeitado como Cardiologista e chegou aonde chegou.

    Mas o Enéas não é regra, infelizmente. Cada caso é um caso.

    Cada sociedade trata os que estão à margem de uma forma. Cada um que está à margem (marginal) reage de uma forma diferente, por temperamento. Todos - sociedade e marginais - têm sua parcela de culpa, mas isso não justifica nada.

    Como foi bem citado por aqui, e os bandidos de terno? Acredito que bons pais, bom Estado, boa escola, etc favorecem a formação de um bom cidadão, mas não garante. É claro que o caminho para uma boa sociedade é uma boa socialização, o que se aprende em casa e na escola.

    Vai ver o Sandro, se fosse rico, culto, etc, continuasse bandido, mas quem sabe um deputado corrupto em vez de um sequestrador?

    Se fosse em Israel, o assaltante/sequestrador levaria um tiro na testa em minutos. Aqui, aconteceria o mesmo se o nosso governador não tivesse ordenado para não atirar (pois a TV estava lá).

    Outro dia, na Tijuca, a TV estava lá e o sequestrador levou um tiro. Talvez um bandido com a mesma história do Sandro.

    O que é certo? Fato é que se sacrificasse uma pessoa ali, talvez outra não tinha morrido. Só que, talvez... O "certo" é cultural.

    Enfim, talvez questionamentos soltos... Melhor do que eu emitir aqui qualquer opinião leviana.

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  8. Acho que todos que assistem o documentário ou mesmo o filme (Última Parada 174, que aliás achei 99% ficção) terminam tentando encontrar O CULPADO.Quem é?Mas pra que perder tempo tentando culpar alguém?O fato já ocorreu, as pessoas que morreram não vão voltar, não vai ter justiça. Mesmo sendo importante entender os fatos passados, o que adianta é buscar quem se responsabilize pela segurança, pela educação, pela vida de quem está aqui agora e cobrar. Cobrar um lar, comida, saúde, educação, lazer, emprego, polícia treinada e preparada, mídia não sensacionalista e parcial.

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